data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Sérgio Teixeira Ketes, 51 anos e Cristiane Schmitt Rycembel, 40, tiveram negativa da segunda parcela por falha no sistema
Desde 9 de abril, cidadãos de todas as cidades brasileiras formam filas para buscar o auxílio emergencial concedido pelo governo federal. A medida implantada para ajudar trabalhadores informais, desempregados e microempreendedores durante a pandemia da Covid-19 concede o valor de R$ 600 por pessoa, podendo chegar a R$ 1,2 mil para mães que são chefes de família. Dados do portal da transparência da União mostram que nos 39 municípios da região de cobertura do Diário, foram pagos mais de R$ 112 milhões a mais de 150 mil pessoas até agora. O montante desembolsado no Rio Grande do Sul é de R$ 1,4 bilhão.
Segundo estudo da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão do Estado (Seplag) do Estado, 14,8% da população gaúcha está apta a receber o auxílio. Em Santa Maria, por exemplo, 19,06% da população recebeu o benefício. A pesquisa da Seplag concluiu também que 72% da população do Estado está sujeita a alguma perda na renda, mas apenas 15% se encaixa nos critérios para receber a ajuda.
Para o professor do curso de Ciências Econômicas da Universidade Franciscana (UFN) e Mestre em Economia Internacional, Fabio Nascimento, o impacto dos valores injetados na economia de municípios de menor porte é expressivo:
- Se você analisar um município como Faxinal do Soturno, que tem um PIB aproximado de R$ 185 milhões, verá que este valor dividido pelos 12 meses do ano resulta em R$ 15 milhões ao mês, em média. Quando você injeta R$ 866 mil em um curto período, atingindo 1.239 beneficiários, verá que o impacto é em torno de 6% da média mensal do PIB, o que é bastante significativo levando em conta a renda média do público alvo.
Santa Maria tem 545 casos confirmados de coronavírus e 15 óbitos
O professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Mara (UFSM), Doutor em Economia Aplicada, Daniel Arruda Coronel, acredita que o auxílio emergencial é uma estratégia importante porque visa garantir um nível de renda para que as pessoas não tenham uma queda abrupta de poder aquisitivo e que possam ter acesso pelo menos à alimentação e a insumos mais básicos. Mesmo assim, faz uma ressalva em relação ao montante das parcelas para a população que depende unicamente do benefício.
- Se não houvesse esse auxílio, teríamos um efeito ainda maior no PIB e na atividade econômica. Porém, a quantia não cobre as despesas básicas de energia, água e aluguel, por exemplo.
Fabio Nascimento acrescenta que a ajuda de R$ 600 na renda dos beneficiários é mais ou menos relevante, de acordo com o porte da cidade.
- Temos também que analisar que R$ 600 em uma cidade como a que citei anteriormente (Faxinal do Soturno) tem um poder de compra diferente de Santa Maria, por exemplo. As necessidades das pessoas variam de acordo com o local em que vivem, pois este, juntamente com a cultura local, ditam o padrão de consumo - destaca.
RENDA MÍNIMA
Daniel Arruda Coronel também é um dos coordenadores do Observatório Socioeconômico da Covid-19, que analisa os impactos causados pela pandemia na perspectiva estadual, regional e nacional e estuda ações para mitigar os efeitos da crise. Na ótica do especialista, seria importante que o poder público adotasse também outras estratégias, como a criação de uma renda mínima de cidadania pelos governos estaduais e prefeituras, e negociasse com os bancos a diminuição da taxa de juros, o alargamento e prorrogação do pagamento de empréstimos.
- Não é possível que num momento como este, de forte retração econômica, os bancos não sejam chamados a pagar um pouco desta conta. Ou seja, é inadmissível que o setor rentista continue faturando bilhões e a população fique numa situação de prostração econômica - defende Coronel.
INCONSISTÊNCIAS E FRAUDES PREJUDICAM DISTRIBUIÇÃO DO BENEFÍCIO
Outro ponto sublinhado pelo professor Fabio Nascimento é a abrangência da política pública. Segundo ele, um pequeno empresário que trabalhe para sobreviver fica sem fonte de renda com a empresa fechada. O resultado, ressalta o professor, é a falência de uma série de pequenas empresas. Por outro lado, ele acrescenta que muitas pessoas que não necessitam receberam os valores indevidamente e, como o recurso é limitado, isso prejudica a sociedade como um todo.
- Inúmeros são os casos relatados pela mídia de pessoas recebendo R$ 600, mas que têm seus bons e gordos salários assegurados de alguma maneira, e ainda, com a total falta de ética, dizem que este valor é pouco e que não atinge quem precisa - diz o docente.
O pintor Sérgio Teixeira Ketes, 51 anos, e a diarista Cristiane Schmitt Rycembel, 40, estão na lista de pessoas que precisam do recurso e que não conseguiram as parcelas de maio e junho. Eles eram casados e são pais de Jordana, 2 anos. Hoje, moram em casas separadas e ambos são beneficiários do Bolsa Família.
Eles chegaram a receber uma parcela do dinheiro, em abril, mas, em maio, no dia determinado para o saque, perceberam que o dinheiro não havia sido disponibilizado, somente o depósito do valor do Bolsa Família, que é de cerca de R$ 170. O motivo é que os nomes deles constam como detentos do sistema prisional.
Os dois já estiveram presos. Na Polícia Civil, não consta informação de que são detentos. Segundo a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), Sérgio está em liberdade desde 2007. Cristiane, desde 2013.
O casal foi orientado a levar a certidão negativa da Polícia Civil na Defensoria Pública da União. Conforme Sérgio, o órgão só está atendendo por WhatsApp ou por e-mail, e os dois não têm como acessar os canais.
_ Estamos quase sem fralda para a minha filha, recebendo só a cesta básica do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), dependendo de ajuda dos vizinhos e não conseguimos resolver _ lamenta o pintor.
A reportagem do Diário tentou contato com a Defensoria Pública da União por telefone e WhatsApp, mas ainda não conseguiu informações sobre o caso.
QUANTO CADA CIDADE RECEBEU DO AUXÍLIO
- Agudo - R$ 2.114.400 - 3.018 beneficiários
- Caçapava do Sul R$ 5.622.600 - 7.926 beneficiários
- Cruz Alta R$ 8.525.400 - 11.701 beneficiários
- Cacequi R$ 2.214.600 - 3.055 beneficiários
- Dilermando de Aguiar R$ 476.400 - 688 beneficiários
- Dona Francisca R$ 556.800 - 822 beneficiários
- Faxinal do Soturno R$ 866.400 - 1.239 beneficiários
- Formigueiro R$1.069.800 - 1.523 beneficiários
- Itaara R$ 775.800 - 1.129 - beneficiários
- Itacurubi R$ 576.000 819 - beneficiários
- Ivorá R$224.400 353 - beneficiários
- Jari R$ 485.400 725 - beneficiários
- Jaguari R$ 1.392.600 2.073 - beneficiários
- Júlio de Castilhos R$ 3.001.200 4.233 - beneficiários
- Lavras do Sul R$ 1.204.800 1.738 - beneficiários
- Mata R$ 705.600 1.041 - beneficiários
- Nova Esperança do Sul R$ 439.200 660 - beneficiários
- Nova Palma R$ 572.400 856 - beneficiários
- Paraíso do Sul R$ 897.600 1.314 - beneficiários
- Pinhal Grande R$ 528.600 927 - beneficiários
- Quevedos R$ 444.000 665 - beneficiários
- Restinga Sêca R$ 2.279.400 3.249 - beneficiários
- Rosário do Sul R$ 6.747.600 9.115 - beneficiários
- Santa Maria R$ 35.474.400 49.744 - beneficiários
- Santa Margarida do Sul R$ 414.000 603 - beneficiários
- Santiago R$ 6.423.600 9.228 - beneficiários
- São Francisco de Assis R$ 2.992.200 - 4.225 beneficiários
- São Gabriel R$ 10.007.400 - 13.604 beneficiários
- Santana da Boa Vista R$ 1.528.200 - 2.212 beneficiários
- São João do Polêsine R$ 329.400 - 493 beneficiários
- São Martinho da Serra R$ 477.600 - 716 beneficiários
- São Pedro do Sul R$ 2.434.800 - 3.576 beneficiários
- São Sepé R$ 3.516.000 - 4.871 beneficiários
- São Vicente do Sul R$ 1.339.200 - 1.910 beneficiários
- Silveira Martins R$ 253.800 - 384 beneficiários
- Toropi R$ 360.600 - 557 beneficiários
- Tupanciretã R$ 3.825.600 - 5.139 beneficiários
- Vila Nova do Sul R$ 759.000 - 1.056 beneficiários
- Unistalda - R$ 414.000 - 588 beneficiários
Total R$ 112.275.800 - 157.775 beneficiários
*Dados do Portal da Transparência do Governo Federal